Chico Saraiva nasceu no Rio de Janeiro mas logo aos três anos de idade sua família muda-se para outro litoral.
Criado desde então em Florianópolis, Santa Catarina, tem sua iniciação musical já entre a canção popular e o chamado violão erudito, o qual conhece com a sorte de cair nas mãos de um professor dedicado.
Aos 17 anos, sentindo que precisava mergulhar de vez no universo do violão, Chico passa na prova preliminar de violão erudito em Porto Alegre mas opta por ir à Campinas para o recém criado curso de música popular da UNICAMP.
Ao longo do curso de graduação é gestado o repertório e linguagem registrada em seu CD de estréia “Água” (MCD/1999), que ao lado do nascimento do grupo “A Barca” estabelecem dois marcos fundamentais para carreira de Chico.
O disco instrumental Água, em parceria com Eduardo Ribeiro e José Nigro, com quem formava o Trio Água, traz as primeiras músicas do compositor-violonista que ali nascia ao lado de obras escritas por autores que lhe são referenciais. No outro lado da balança está o início do grupo A Barca, em que Chico é integrante fundador. Seguindo as trilhas de Mario de Andrade, A Barca realizou expedições Brasil adentro desde 1999 para aprofundar o contato com a música das culturas tradicionais brasileiras – marcadamente ligadas à oralidade – e transformar essas trocas em verdadeiros espetáculos musicais. O conteúdo mobilizado nessas viagens seguem transformando a relação de Chico com a música, e o grupo – juntos há 25 anos – segue se apresentando até os dias de hoje.
Em 2003, Chico ganha grande notoriedade ao vencer o 6º Prêmio Visa de MPB – Edição Compositores. O prêmio permitiu a gravação de seu segundo CD “Trégua” (Biscoito Fino/2003), que apresenta canções interpretadas por grandes cantoras brasileiras, permeadas por composições para violão. O disco foi considerado uma “obra-prima” pela imprensa europeia.
De aí em diante, o compositor passa a se alimentar, de maneiras variadas, do contato entre o violão e a canção e em seu terceiro disco, “Saraivada” (Biscoito Fino/2007), as sonoridades e os sotaques rítmicos de raiz brasileira interagem com a moderna e inventiva linguagem harmônico melódica do compositor. Disco no qual o próprio compositor tem uma primeira experiência interpretando suas canções, compostas em parceria com poetas como Luiz Tatit e Paulo César Pinheiro.
Lança em 2009 o CD “Sobre Palavras” (Borandá), projeto em parceria com a cantora Verônica Ferriani e com o letrista Mauro Aguiar. Trabalho selecionado pelo Projeto Pixinguinha (Funarte).
Em 2013 apresenta o projeto “Tejo-Tietê”, em parceria com a cantora portuguesa Susana Travassos, gravado em voz e violão, com produção de Paulo Bellinati. Trabalho viabilizado pelo ProAc/ICMS da Secretaria do estado da cultura de São Paulo, com patrocínio da “Lupo”.
Chico Saraiva vem ao longo dos anos se apresentando em inúmeros teatros no Brasil e também no exterior, executando sua música ao lado de mestres como Guinga e Francis Hime, bem como com parceiros da nova geração.
Em 2013, Saraiva conclui seu projeto de mestrado em música (na área de “Processos de Criação Musical” ECA/USP), baseado em entrevistas com grandes mestres e intitulado “Violão-Canção: diálogos entre o violão solo e a canção popular brasileira”, projeto que é decorrência natural de seu percurso. Na banca examinadora: Maestro Gil Jardim (orientador), o violeiro Ivan Vilela e José Miguel Wisnik.
Do projeto “Violão Canção” nasceram um livro, lançado em 2019, um filme documentário – “Violão-Canção: uma alma brasileira” -, produzido com o apoio de edital do Pró Reitoria de Cultura e Extensão da USP e exibido nos canais SescTv e Arte 1, e um vídeo-site, interativo e em contínua atualização de materiais, que rompem os limites da academia e dialogam com a trajetória artística de Chico Saraiva.
Trajetória que tem os desdobramentos naturais do agora e do porvir. Que despontam movimentados:
- na apresentação do resultado do aprofundamento nas leituras próprias, em voz e violão – que podem se dar tanto em forma de “Saraivada” – show que agrega a sonoridade de banda – quanto em formato camerístico.
- na realização das oficinas Violão-Canção em faculdades ou instituições dedicadas à educação musical onde Chico Saraiva, com seu violão em mãos, apresenta e discute com os alunos a relação entre o violão solo ligado à tradição escrita e a canção popular no Brasil, objetos de seu mestrado.
- no doutorado, que aprofunda a questão da escrita no limiar da tradição aural escrita, a partir da experiência de escrita musical de seu próprio processo – uma vez que o caráter pessoal é determinante em qualquer obra – e repertório autoral. Você pode acompanhar este “Work in Progress” em Composições e Exercícios.
- na atuação como produtor e violonista-arranjador (escrevendo arranjos e gravando o violão) no trabalho de outros artistas.
- na sequência do “Duo Saraiva-Murray” – formado com o violonista Daniel Murray – duo de violões que gravou o CD “Galope” (Borandá – 2016), disco instrumental de composições de Saraiva para violão, com produção de Paulo Bellinati.